Baixo número de visitas a presos contrasta com o valor que a SAP dá à vida do policial penal

Inês Ferreira
Neste final de semana ficou evidente que parentes de presos se importam mais com a vida dos seus entes do que a SAP (Secretaria da Administração Penitenciária), com a vida de policiais penais e suas famílias. Isso ficou demonstrado por meio do baixo número de pessoas que procuram unidades prisionais para visitar presos e a falta de proteção destinada aos servidores públicos. Depois de quase oito meses sem visita, ao contrário do que era esperado, a procura de visitantes foi irrisória, pelo menos em unidades prisionais pesquisadas pelo SINDCOP.

“O número baixo de visitantes demonstra que familiares de presos têm mais consciência que a SAP e o governo de estado”, disse o presidente do SINDCOP, Gilson Pimentel Barreto.

As visitas presenciais estavam proibidas desde março passado por causa da Covid 19. A entrada de pessoas estranhas nas unidades foi liberada pelo governador João Doria, a partir do último sábado (7).

Neste final de semana puderam receber visitas somente presos com matrículas pares e com limitação a uma pessoa por preso e somente pelo período de duas horas. Mesmo com essas limitações o número ficou aquém do esperado.

Logo na manhã de sábado, policiais penais perceberam que o dia seria tranquilo já que não havia as costumeiras aglomerações em frente as unidades. Ainda pela manhã, começaram a chegar os dados das unidades aos canais de comunicação do SINDCOP informando que o número de visitantes era baixíssimo. A situação continuou a mesma no domingo, o que demonstrou o medo que os familiares de presos têm da infeção do coronavirus.

Para se ter uma ideia de como foi baixo o número de visitas, o sindicato separou os números de algumas unidades do Estado. Em Campinas, por exemplo, em uma das unidades com mais de 1.600 presos foram registradas somente 27 visitas no período da manhã e sete no período da tarde.

Em São José do Rio Preto, uma unidade que abriga 1.570 presos teve apenas 4 visitas no período da manhã e outras 2 no período da tarde. No CDP dessa mesma cidade foram registradas apenas 20 visitas.

Na região Noroeste, a maior movimentação foi no CDP de Bauru que tem uma população carcerária de 1187 presos e registrou 75 visitas no sábado, e 89 no domingo.

No CPP 1 de Bauru, que tem cerca de 2.500 presos,  foram registradas apenas 8 visitas. Em Cerqueira Cesar, que tem uma população de cerca de 1.600 presos, foram registradas 15 visitas de manhã e 10 no período da tarde. A situação se repetiu em outras unidades.

CONTAMINAÇÃO DE PRESOS AUMENTA 771%
No mesmo dia em que o governador João Doria, por meio da SAP, liberou as visitas a imprensa divulgou que ao menos 10.023 dos quase 219 mil presos do estado de São Paulo foram infectados pelo coronavírus nas prisões. O número de mortos subiu para 34 .
Segundo os dados divulgados pela mídia, nos últimos quatro meses houve um aumento de 771% no número de presos com Covid 19.

Até o dia 7 de julho, o total de presos infectados —testados pelo PCR e exame rápido¬— era de 1.150. Segundo a SAP, os exames de PCR detectaram 982 presos infectados e os testes rápidos tiveram resultados positivos em outros 9.041.

Descaso com a vida de policiais penais
“Como pode a SAP ignorar um cenário desses e abrir as portas para as visitas presenciais? Isso é um absurdo, um descaso com a vida de servidores e suas famílias. Vamos tomar medidas jurídicas para tentar impedir essa liberação”, afirmou o presidente do SINDCOP.

Um servidor que estava de plantão no domingo e que preferiu não se identificar, também questionou a atitude do governo, por meio do canal Boca no Trombone.

“Não importa se tem um ou dois casos, não deveria haver entrada de visitas. A unidade não fez testes nos sentenciados”, disse o servidor.

Segundo ele, o isolamento dos presos suspeitos nas unidades é feito “a olho”, ou seja, quando o detento alega falta de olfato e paladar e tem sintomas de gripe.

O servidor diz que apesar do governo liberar a vista ele não liberou testes para a população carcerária.

“A entrada em massa de visitantes dentro dos pavilhões pode trazer o coronavirus e causar uma transmissão em massa, inclusive entre funcionários”, diz o servidor.

Segundo ele, os policiais penais estão sobrecarregado e trabalhando no limite.
“Já estamos trabalhando limitados, tanto no administrativo como na carceragem, a SAP não nos forneceu os EPEI´s (Equipamentos de Proteção Individual) indicados, como capacete. A única coisa que temos são máscaras de pano (que já foi informado que não tem eficácia contra o vírus, como as hospitalares) e luvas. Estamos na linha de frente e estamos sendo tratados como algo descartável. Também temos famílias e principalmente pessoas que se enquadram na linha de risco”, disse o servidor.

Conforme ele, é preciso urgentemente alguma intervenção de algum órgão para averiguação, e também um profissional competente da saúde para auferir febre das visitantes que for entrar na unidade.

“Nós, ASP´s, não temos prerrogativas para barrar algum familiar com febre”, concluiu.

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