Inês Ferreira
Pesquisa realizada pela FGV (Fundação Getúlio Vargas) apontou que 82,39% dos policiais penais têm medo do novo coronavírus. A pesquisa foi feita entre os dias 15 de abril e 1º de maio de 2020, mediante consulta on line, que entrevistou 301 policiais penais de todas as regiões do país.
Ao ter acesso aos dados da pesquisa, o presidente do SINDCOP, Gilson Pimentel Barreto afirmou que os números reforçam as afirmações da diretoria do sindicato que tem denunciado constantemente o descaso do governo para com os servidores.
“Esses números deixam claro que os servidores estão totalmente desprotegidos pelo Estado e que estão colocando suas vidas e de seus familiares em risco no seu ambiente de trabalho”, disse o presidente.
Medo
Segundo os dados coletados pela FGV, 54% dos policiais penais conhecem amigos ou colegas que já se contaminaram.
Além do medo de contaminação pela doença, os policiais sentem medo de levar o novo coronavírus para dentro do sistema prisional, sem contar o aumento do medo relativo à tensão que, embora sempre presente no sistema carcerário, aumentou pela própria necessidade de isolamento dos presos.
“A pesquisa mostra que esses profissionais, para os quais não há a opção de home office e que precisam continuar na ativa, em um trabalho que é eminentemente interativo, estão fortemente sujeitos ao contágio. Além disso, trata-se de um trabalho feito em condições tradicionalmente precárias. O ambiente insalubre das prisões e a superlotação do sistema carcerário colocam esses profissionais e os próprios presos em uma situação extremamente vulnerável e de potencial catástrofe humana. Tudo isso aumenta o medo destes profissionais”, avaliou Gabriela Lotta, professora da EAESP FGV, coordenadora do NEB e pesquisadora do Centro de Estudos da Metrópole.
Desprotegidos
A pesquisa também revelou que mais da metade dos servidores (61,79%) não se sentem preparados para lidar com a crise do Coronavirus e apenas 32,56% do total dos entrevistados acreditam ter recebido materiais adequados para trabalhar diariamente com segurança, garantindo a sua segurança e a dos presos.
Dos entrevistados, apenas um terço aponta ter recebido EPI (Equipamento de Proteção Individual). Nesse item foi demonstrado uma variação entre as regiões, se destacando positivamente a região Sul, onde 53,84% dos profissionais receberam equipamentos, em contraposição à região Norte, onde o indicador chega a 26,66%.
Suporte do estado
Sobre o enfrentamento à crise (treinamento e formação) apenas 9,3% do total dos entrevistados afirmaram ter participado treinamentos para lidar com o coronavírus ou que receberam diretrizes sobre como atuar.
No que se refere às relações hierárquicas, apenas 33,22% afirmou que recebeu orientações de suas chefias sobre como atuar durante a crise, enquanto 70,43% diz não sentir suporte de seus superiores para enfrentar a crise.
Com relação ao suporte governamental, mais da metade dos entrevistados afirmam não sentir que os governos estaduais os apoiam, sendo que esse número varia também entre regiões – no Sudeste, a sensação de apoio aparece em apenas 11,26% dos entrevistados, enquanto na região Sul o dado chega a 46,15%.
Afastamento da família
Além do aumento de trabalho, do medo e do estresse, vários profissionais relatam que estão afastados das próprias famílias para não correrem o risco de contaminá-las. Alguns disseram que deixaram suas casas e estão morando provisoriamente em hotéis ou residências coletivas.
Os entrevistados também apontaram mudanças nas rotinas de trabalho e nas interações. Entre elas, a preocupação adicional com medidas de higiene; as mudanças de escala de trabalho e rotinas trabalhistas (como férias, licença, etc).
Policias penais também afirmaram que houve mudanças de procedimento para lidar com os detentos como: redução de escolta; alteração da movimentação dos presos dentro da penitenciária; mudanças relativas ao banho de sol; redução na revista dos presos e das celas e a diminuição de serviços dentro das prisões e também apontam como mudança importante a cobrança maior de medidas de higiene por parte dos presos.
O estudo também analisou em que medida a crise alterou os processos de trabalho e as interações entre os agentes prisionais e os presos. Mais de 70% dos entrevistados afirmaram que as interações com os presos foram afetadas e 63% afirmaram que a crise alterou suas rotinas.
Nota Técnica
A pesquisa foi usada para elaboração da nota técnica “Os agentes prisionais e a Pandemia de Covid 19”. O documento, com 10 página, foi redigido pelo Núcleo de Estudos da Burocracia, da FGV .
O intuito da pesquisa foi de compreender qual a percepção destes profissionais em relação aos impactos da crise em seu trabalho, bem-estar e modo de agir cotidianamente.
Segundo a nota, a pandemia do Coronavírus é o maior desafio contemporâneo. E seus efeitos são sentidos de forma desigual entre os diversos grupos sociais. Nesse sentido, o sistema carcerário pode vir a concentrar uma das maiores taxas de infecção e mortalidade decorrentes da COVID-19 no país, o que infelizmente não está no centro do debate político atual.
No que se refere ao perfil da amostra, a pesquisa apontou que há uma concentração de policiais penais que atuam na Região Sudeste do país (47,18%), com destaque ao Estado de São Paulo que sozinho computa quase um terço de dos entrevistados.
Em termos gerais, a pesquisa afirma que a divisão por sexo observada é de 27,24% mulheres, 70,76% homens e 2% que preferiram não declarar.
Mais da metade (52,83%) do total de respondentes disse que atua há pelo menos 10 anos como agente penitenciário.
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