Alterações fazem parte da contrapartida ao socorro financeiro que destina ajuda de R$ 125 bilhões em razão da pandemia de Covid-19.
Carlos Vítolo
(Com Agência Câmara de Notícias)
A Câmara dos Deputados aprovou mudanças que ampliam o rol de categorias que ficarão fora do congelamento de salários de servidores civis e militares, em contrapartida ao socorro financeiro que destina ajuda de R$ 125 bilhões para os estados, Distrito Federal e municípios, em razão da pandemia de Covid-19.
No texto do Projeto de Lei Complementar (PLP) 39/20, que havia sido aprovado pelo Senado, como substitutivo ao Projeto de Lei Complementar (PLP) 149/2019, da Câmara, ficavam de fora do congelamento de salários dos servidores públicos municipais, estaduais e federais até dezembro de 2021, somente profissionais da segurança pública, saúde e Forças Armadas.
No entanto, os deputados fizeram alterações no texto aprovado pelo Senado, e acrescentaram, entre outros, trabalhadores da educação, da assistência social, limpeza pública, policiais legislativos, técnicos e peritos criminais, agentes socioeducativos e fiscais agropecuários. O texto retornará para análise dos senadores.
Também foi suprimida a expressão que liberava reajustes apenas para profissionais “diretamente envolvidos” no combate à Covid-19, como os da saúde e da segurança pública.
Foi frustrada a tentativa do relator do PLP 39/20 na Câmara, deputado Pedro Paulo (DEM-RJ), e do presidente Rodrigo Maia (DEM-RJ), de encaminhar rapidamente a proposta para sanção presidencial. Eles defenderam a aprovação do texto aprovado pelo Senado, em virtude da urgência no repasse de recursos para auxiliar as ações contra a pandemia.
Rateio modificado
(Da Agência Câmara de Notícias)
Além da suspensão do pagamento de dívidas dos entes federados com a União e com a Previdência Social (valor estimado em R$ 65 bilhões), a proposta do Senado prevê o repasse de R$ 60 bilhões em quatro meses para amenizar os impactos da queda de arrecadação devido ao impacto na economia das medidas de isolamento social necessárias ao enfrentamento da doença.
O valor do socorro proposto pelo Senado é fixo, ao passo que a versão da Câmara previa ajuda variável estimada inicialmente em R$ 80 bilhões em seis meses. O Senado criou regras diferenciadas para suspensão das dívidas dos entes federados com a União; o texto da Câmara continha dispositivos específicos no caso do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e do Banco do Brasil.
Os deputados aprovaram também destaque apresentado pela bancada do Novo que muda um dos critérios para a distribuição de parte dos R$ 10 bilhões em recursos da União que deverão ser destinados necessariamente para ações de combate à pandemia.
Em vez de considerar a taxa de incidência de infectados conforme o número de habitantes, o trecho aprovado leva em conta o total de casos registrados em cada estado. Dessa forma, São Paulo e Rio de Janeiro deverão receber mais recursos do que o previsto pelos senadores. Eles haviam sugerido fórmula que acabava por beneficiar Amapá e Rondônia, entre outros.
O relator, deputado Pedro Paulo, disse que o texto do Senado avançou ao estabelecer limite global para o auxílio da União e nas vedações para aumento de despesas nos entes federados, mas criticou os critérios de distribuição do dinheiro. Com base em estudo feito por consultores, o relator avaliou que havia muitas distorções em relação ao que fora previsto pela Câmara.
Enquanto acontecia a sessão virtual na Câmara, o presidente do Senado, Davi Alcolumbre, afirmou que as mudanças feitas pelos deputados não serão acatadas. “As alterações na Câmara representam a força das bancadas do Sul e do Sudeste, e nós aqui no Senado restabeleceremos o texto aprovado pela quase unanimidade dos senadores”, disse.
Despesas congeladas
Após acordo com a equipe econômica, o texto do Senado incluiu contrapartidas para o socorro financeiro aos entes federados. A principal delas proíbe a União, os estados, o Distrito Federal e os municípios de concederem qualquer tipo de reajuste ou aumento nos salários até o final de 2021, assim como a realização de concursos e a criação de cargos.
A ideia inicial do Senado excluía dessas regras especialmente os servidores civis e militares dos setores de saúde e segurança pública. Alterações aprovadas pelos deputados acrescentaram, entre outros, trabalhadores da educação, da assistência social e na limpeza pública; policiais legislativos; técnicos e peritos criminais; e agentes socioeducativos.
A proibição de reajustes motivou diversas manifestações dos parlamentares, favoráveis e contrários à medida. O presidente da Câmara, Rodrigo Maia, criticou as mudanças, que, segundo ele, desidrataram as contrapartidas ao auxílio a estados e municípios. “Pelo jeito, não estávamos falando sério do congelamento [salarial]”, afirmou. “É um absurdo.”
Conforme o PLP 39/20, ficará proibida ainda qualquer medida que implique reajuste de despesa obrigatória acima da variação da inflação medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). Despesas de caráter continuado não poderão ser criadas, exceto se houver compensação permanente.