28 DE OUTUBRO

Homenagem do SINDCOP aos servidores paulista

POÉTICA  

(Manuel Bandeira)

Estou farto do lirismo comedido 

Do lirismo bem comportado 

Do lirismo funcionário público com livro de ponto espediente protocolo e manifestações de apreço ao sr. diretor. 

Estou farto do lirismo que pára e vai averiguar no dicionário o cunho vernáculo de um vocábulo. 

Abaixo os puristas. 

Todas as palavras sobretudo os barbarismos universais 

Todas as construções sobretudo as sintaxes de exceção 

Todos os ritmos sobretudo os inumeráveis 

Estou farto do lirismo namorador 

Político 

Raquítico 

Sifilítico 

De todo lirismo que capitula ao que quer que seja fora de si mesmo. 

De resto não é lirismo 

Será contabilidade tabela de co-senos secretário do amante exemplar com cem modelos de cartas e as diferentes maneiras de agradar às mulheres, etc. 

Quero antes o lirismo dos loucos 

O lirismo dos bêbados 

O lirismo difícil e pungente dos bêbados 

O lirismo dos clowns de Shakespeare. 

– Não quero saber do lirismo que não é libertação.

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